Dobra o número de idosos no mercado de trabalho no Paraná
Dia do vovô
Zita Josefina Schmitz começou nesta semana a escrever um novo capítulo de sua história. Aos 69 anos, a mulher resolveu se aventurar no mundo dos eventos. Na última terça-feira, estreou como a Vovó Engla (nome escandinavo que significa ‘anjo’) no Mundo Kids Buffet, atuando na Área Baby Montessoriana da empresa de festas, onde cuida dos pequenos, conta histórias e os ensina a usar brinquedos educativos.
“Está sendo legal, uma experiência gostosa. Sempre gostei de lidar com criança e, como sou idosa e não tenho netos, tenho de brincar com os netos dos outros”, brinca Zita, que trabalha desde os 14 anos, já tendo assumido funções como governanta, secretária e operadora de caixa. “Quero continuar na ativa, não quero parar”, conta.
Historias assim são cada vez mais comuns. Ao menos é isso o que apontam dados da Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia disponíveis na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), os quais revelam que em sete anos (2010 a 2017) praticamente dobrou o número de idosos no mercado formal de trabalho no Paraná.
Em 2010 haviam 18.323 profissionais com mais de 65 anos em vagas com carteira assinada no Paraná. Em 2017, último ano com dados disponíveis, já eram 36.532, um aumento de 99,38%. Já na faixa entre 50 em 64 anos, o crescimento verificado nesse mesmo período foi de 42,48%, com o número de profissionais com essa idade saltando de 353.314 para 503.412. Se há mais profissionais experientes atuando, por outro lado diminuíram as oportunidades aos mais jovens. Há nove anos, os trabalhadores com idade entre 15 e 29 anos somavam 1.014.522, o equivalente a 36,5% dos 2,78 milhões de trabalhadores com carteira assinada. No último ano pesquisado, contudo, os profissionais dentro dessa faixa etária já somavam 920.031, uma redução de 9,31% na comparação com 2010 e o equivalente a 30,4% dos 3,03 milhões de trabalhadores formais no estado.
‘Contrata-se avó!’ teve mais de 2,5 mil candidatos
A vaga ocupada por Zita foi anunciada nas redes sociais pela Mundo Kids Buffet e viralizou. O título do anúncio era ““CONTRATA-SE AVÓ” e colocava como requisito que o candidato fosse do sexo feminino e tivesse mais de 55 anos. “A sua avó, mãe, tia ou vizinha cansou de procurar emprego e devido à idade desistiu?”, questionava o anúncio da vaga, que não exigia experiência, apenas que a pessoa fosse comunicativa, gostasse de crianças, fosse paciente e muito carinhosa.
Segundo Paulo Pinheiro, proprietário e responsável pelo marketing da Mundo Kids, a empresa recebeu mais de 2,5 mil e-mails de pessoas se candidatando. “O que queríamos fazer não era só contratar essa pessoa, mas trazer à tona esse assunto e acho que conseguimos. Vemos cada vez mais gente com idade aptas para trabalhar e o mercado de trabalho não vem dando espaço para essas pessoas”, explica o empresário.
O processo para contratação das Vovós Englas, contudo, ainda não foi encerrado. “Com quase 14 milhões sde desempregados (no Brasil), ainda assim quando abrimos para contratação de garçonete, garçom, serviços gerais, fazemos a pré-seleção dos currículos, chamamos, e vem 20 no máximo. As vovós chamamos 30 por dia, vieram as 30. Isso é comprometimento”, comenta Paulo, contando que 30 senhoras foram selecionadas para passar por experiência. “Cada uma tem de fazer de dois a três dias de testes, então vai mais um mês até a gente bater o martelo.”
Crise e envelhecimento da população explicam aumento
Na avaliação de Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há uma série de fatores que ajudam a explicar essa nova tendência do mercado de trabalho. Um deles é o envelhecimento da população. Até 2010, o contingente de pessoas acima dos 60 anos respondia por 11,13% (1,19 milhão) do total da população paranaense. No ano passado, segundo projeção do IBGE, já era 14,5% (1,65 milhão).
A razão central para vermos mais idosos trabalhando, contudo, é a falta de renda e a busca por meios para custeas as despesas não somente do próprio idoso, mas da família, aponta o coordenador do IBGE. “A crise provoca instabilidade no rendimento de trabalho, principalmente, o que acaba fazendo que população mais idosa, para compor renda familiar, tenha que se lançar ao mercado. Mas ela vai se deparar com dificuldade de inserção em um mercado que está fechado”, avalia Azeredo.
Dia dos Avós
Em Brasil e em Portugal, o dia 26 de julho marca a celebração oficial do Dia dos Avós. A data se popularizou a partir dos anos 1980, por iniciativa da portuguesa Ana Elisa do Couto (1926-2007), que defendia a celebração do Dia dos Avós como uma forma de reconhecer a importância dessas figuras, que segundo ela não recebiam o devido valor. A escolha do dia 26, então, se deu pelo fato de nesse mesmo dia a igreja Católica celebrar São Joaquim e Santa Ana, pais de Maria e avós de Jesus.
A longevidade
A longevidade impõe desafios para a população brasileira, em que parte significativa segue exercendo alguma atividade profissional mesmo após a aposentadoria. Um levantamento realizado em todas as capitais pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostra que sete em cada dez idosos (70%) estão aposentados. Desse total, 21% continuam trabalhando e uma das principais razões é o fato de a renda não ser suficiente para pagar as contas (47%). Já 48% disseram que querem se sentir produtivos nessa fase da vida e 46% buscam manter a mente ocupada.
Embora atuem ativamente, 43% reconhecem que tiveram dificuldades para conseguir uma oportunidade, principalmente por enfrentar preconceito com a idade avançada (30%). Por outro lado, 57% afirmam não ter tido problemas em conseguir trabalho. Quando questionados sobre até que idade pretendem trabalhar, mais da metade (61%) não soube definir ao certo. Para os que sinalizaram ter uma perspectiva em mente, a média é de 74 anos.
Apesar da questão financeira ser um ponto relevante para aqueles que optam por não parar, 76% dos idosos encaram o trabalho de forma positiva nessa fase da vida. Tanto que um terço (30%) destes menciona sentir satisfação por estar trabalhando e poder produzir, enquanto 20% têm orgulho de manter sua independência, ao passo que 18% disseram gostar do que fazem e ainda possuem muitos projetos a serem realizados.
Na avaliação da economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, os dados refletem um novo cenário com o aumento da expectativa de vida no Brasil. “Percebe-se, muitas vezes, que os idosos não se prepararam para este momento e os ganhos com a aposentadoria acabam não sendo suficientes para manter o padrão de vida desejado. Mas já enxergamos uma mudança na visão de grande parte dessas pessoas, que começam a encontrar um sentido especial no trabalho por se sentirem mais produtivos e independentes”, ressalta.
Nove em cada dez idosos contribuem com orçamento familiar; previdência social é principal forma de preparação para aposentadoria
O estudo observa ainda que boa parte dos lares conta com a renda de familiares acima dos 60 anos. Nove em cada dez (91%) idosos contribuem financeiramente com o orçamento, sendo que 43% são os principais responsáveis pelo sustento da casa. Ainda assim, 34% dos entrevistados recebem algum tipo de custeio — percentual que cresce para 40% entre as mulheres — vindo principalmente de pensão por falecimento do cônjuge (15%) ou de familiares (15%).
Quando o assunto é preparação para aposentadoria, o que se percebe ainda é uma falta de conscientização sobre a necessidade de pensar no futuro. Entre os que se planejaram de olho nesta fase da vida, três em cada dez (32%) admitem nunca ter guardado dinheiro exclusivamente para esta finalidade. Outros 25% não lembram quando começaram a fazer uma reserva. Em relação aos 43% que recordam o período de início dessa poupança, a média de idade foi aos 27 anos.
A maior parte (47%) se preparou ou ainda se prepara para a aposentadoria por meio da contribuição ao INSS. Já 34% realizam ou realizaram algum tipo de investimento — número que sobe para 43% entre os homens e 49% nas classes A e B. Desse total, 13% dos recursos foram aplicados em poupança, 9% em previdência privada da empresa onde trabalhou e 7% destinados a outros investimentos, como fundos, ações, CDBs, Tesouro direto e renda fixa. Há também uma parcela que investe em previdência paga por conta própria (7%) e em imóveis (6%) – considerando apenas os imóveis tratados como investimento e não moradia.
Entre os que sinalizaram ter se preparado, 25% atribuem esse comportamento ao seu perfil mais precavido, enquanto 21% dizem que se espelharam em exemplos próximos de pessoas que não se preparam e tiveram problemas financeiros na aposentadoria. Já 17% seguem orientações de amigos e familiares. Quanto àqueles que não se prepararam, os principais fatores citados são falta de renda (29%) e de sobra de dinheiro no orçamento (25%).
“Planejar a aposentadoria pensando apenas na renda que virá com o INSS é arriscado no contexto econômico atual do país, especialmente porque as regras da previdência social podem mudar a qualquer momento. Além disso, o valor médio do benefício concedido raramente é suficiente para dar cobrir despesas que não estavam previstas, gastos com remédios e plano de saúde, por exemplo. O recomendável é complementar os ganhos da previdência com um plano privado ou outro tipo de reserva. E quanto mais cedo, melhor”, orienta o educador financeiro do SPC Brasil e do portal “Meu Bolso Feliz”, José Vignoli.
Redação com Bem Paraná e G1