'Paraná não tem uma pandemia controlada para anunciar possível retorno às aulas presenciais em setembro', diz sindicato
Secretaria Estadual de Educação calendário de retorno pode ser alterado conforme evolução da pandemia no estado. Segundo App-Sindicato, volta às aulas expõe cerca de 2,5 milhões de pessoas a risco
Sindicato dos Trabalhadores de Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato) afirmou que a pandemia do novo coronavírus não está controlada no estado para que o Governo do Paraná anuncie a possibilidade de retorno das atividades presenciais em setembro.
"O Paraná não tem uma pandemia controlada para anunciar possível retorno às aulas presenciais. O protocolo é baseado em medidas internacionais de prevenção ao coronavírus, mas as aulas nestes países só voltaram depois que os números de casos e mortes caíram e a situação foi completamente controlada", disse a diretora da App-Sindicato Walkiria Olegário Mazeto.
De acordo com o sindicato, não foram apresentados indicadores sobre o controle da pandemia que apontem para a segurança do retorno das atividades em setembro.
O anúncio do retorno e dos protocolos que serão seguidos foi feito na quinta-feira (30). O ensino presencial no estado está suspenso desde março.
De acordo com a Secretaria Estadual da Educação (Seed), a definição pelo mês de setembro é apenas um indicativo de retorno às atividades, e o calendário pode ser alterado conforme o desenvolvimento da pandemia no estado.
Segundo a secretaria, a volta às aulas pode acontecer de modo regionalizado, nos locais em que a pandemia estiver controlada, de acordo com indicadores que serão formulados pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa).
O boletim divulgado pela Sesa na quinta-feira (30) apontou que o Paraná tem 72.696 casos confirmados e 1.839 mortes.
Além dos números diários de casos e mortes, o sindicato afirma que os números de lotação de UTI e a dificuldade do estado em adquirir alguns medicamentos indicam que o ideal seria adiar o retorno às atividades presenciais.
Segundo a diretora do sindicato, a volta às aulas pode expor cerca de 2,5 milhões de pessoas, entre alunos, professores e funcionários das redes pública e privada do Paraná.
"Os índices de isolamento no estado estão baixos. Com estes números, seria inviável retornar. Colocaríamos em risco não só a vida dos estudantes e profissionais de educação, mas de toda a sociedade", afirmou Walkiria.
Discussão das medidas
A App-Sindicato afirma que a decisão sobre o retorno e os protocolos não foi discutida suficientemente pelos membros do comitê formado pelo governo estadual.
A Secretaria da Educação, por outro lado, afirmou que as decisões foram tomadas com a participação de representantes de várias entidades, sindicatos, professores, pais de alunos e estudantes, além da Associação de Municípios e Ministério Público.
"A validação desse protocolo foi feita pelas autoridades de saúde, com participação da Sociedade Brasileira de Epidemiologia, que segue o padrão dos melhores protocolos do Brasil e do Mundo", afirmou o secretário-geral da Seed, Gláucio Dias.
Em nota, o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Estado do Paraná (Sinepe) afirmou que o protocolo orienta objetivamente as formas de se trabalhar dentro da escola, garantindo que sejam praticadas todas as medidas sanitárias necessárias para um retorno seguro dos estudantes e da comunidade escolar.
Protocolos
O protocolo de volta às aulas no Paraná prevê a divisão dos alunos em grupos que se revezarão semanalmente entre aulas online e presenciais.
O ensino híbrido valerá para alunos a partir do 6º ano do ensino fundamental. Mesmo assim, os responsáveis podem decidir se vão mandar o estudante para a escola ou não. Eles assinarão um termo de consentimento para aulas presenciais.
O plano é que o retorno aconteça de forma gradual, primeiro com os alunos do 3º ano do ensino médio e do 9º ano do fundamental.
Na rede municipal, até o 5º ano do ensino fundamental, e particular o método será facultativo. Ou seja, as instituições poderão optar por ficar somente no ensino remoto, sem as aulas presenciais, conforme o comitê estadual que elaborou o protocolo. Porém, as regras para ensino presencial precisarão ser respeitadas.
O grupo, que foi criado em junho para discutir o retorno das atividades presenciais nas escolas, é formado por representantes de escolas públicas e privadas, Ministério Público, professores, pais e alunos.
O que diz o protocolo?
- Os estudantes serão divididos em grupos, que farão revezamento permanecendo por uma semana em aulas presenciais e por uma semana em aulas remotas
- As aulas remotas permanecem diariamente e as aulas presenciais ocorrerão de forma escalonada
- O número máximo de pessoas em cada sala deverá respeitar o distanciamento mínimo de 1,5 m
- As instituições de ensino deverão organizar escalas para que todos as turmas sejam atendidas presencialmente pelo menos uma vez na semana
- Os horários de entrada e saída, e intervalo/recreio devem ser redefinidos e intercalados, de modo a evitar a aglomeração de pessoas e a circulação simultânea de grande número de alunos, nas áreas comuns e nos arredores do estabelecimento
- Os horários do recreio e parque devem ser organizados de forma escalonada, necessitando de limpeza a cada troca de turno e sempre que possível, após os intervalos
- Escalonar o horário de ida aos banheiros
- Sugere-se que estudantes e professores tragam lanche de casa e comam em suas próprias mesas. No caso dos estudantes, receberem a merenda da escola, a distribuição deverá ocorrer de forma escalonada, prevendo limpeza prévia do local e respeitando o distanciamento mínimo recomendado para que não haja aglomeração no ambiente
- As Instituições de ensino deverão limitar o acesso às suas dependências somente às pessoas indispensáveis ao funcionamento que não apresentem fatores de risco e com uso de máscara
- O atendimento ao público será feito de forma online ou via telefone. Caso seja necessário atendimento presencial, este deverá ser previamente agendado
- Nivelamento EAD: realizar atividades a fim de fortalecer a retomada de conteúdos, de recuperação escolar e de atendimento aos estudantes com maiores dificuldades
Quem volta primeiro?
O retorno deverá ocorrer de maneira escalonada, por região do estado, conforme desenvolvimento da pandemia, respeitando a decisão da Secretaria de Estado da Saúde, na seguinte ordem:
- Estudantes do 3º ano do ensino médio e 9º ano do ensino fundamental
- Estudantes do ensino médio
- Estudantes do ensino fundamental I e II
- Estudantes da educação infantil
- Retorno dos estudantes menores de dois anos não ocorrerá, devido à dificuldade de cumprimento das normas. Instituições privadas deverão elaborar um plano específico para sua rede
- Protocolo prevê possibilidade de fechamento das instituições de ensino por regiões, conforme desenvolvimento da pandemia e respeitando a decisão da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa)
O que acontece em caso de contaminação?
- Caso ocorra contaminação entre estudantes ou de professores, a instituição deverá ser interditada por 14 dias, retornando para o modelo de aulas 100% online durante este período
- Triagem de temperatura será realizada diariamente por meio de termômetros infravermelhos sem contato direto com a pele
- Caso a verificação da temperatura registrada esteja maior ou igual a 37°C, o estudante deverá ser isolado, e a instituição de ensino deverá entrar em contato com os responsáveis a fim de buscarem atendimento médico
Quais são as regras de higienização?
- Orientar os alunos sobre a higienização correta das mãos, sabão e água ou álcool gel 70%
- O uso de máscara de tecido, que será fornecida pelo governo, será obrigatório para todas as pessoas nas Instituições de ensino. Recomenda-se a troca de máscara a cada 2 horas ou sempre que ela estiver úmida ou suja
- Reforçar a higienização de superfícies que são tocadas por muitas pessoas, como grades, mesas, carteiras, puxadores de porta e corrimões, antes do início das aulas, em cada turno e sempre que necessário
- Manter janelas e portas abertas a fim de melhor ventilar os espaços. O uso do ar condicionado e ventilador deve ser evitado, mas caso seja necessário, caberá à instituição de ensino a verificação, manutenção e higienização rigorosa desses equipamentos
Quais são as regras para o transporte escolar?
- Os veículos de transporte escolar deverão reforçar as medidas de higienização do interior dos automóveis e do sistema de ar condicionado
- O limite máximo de ocupação será de 50% da capacidade, sendo obrigatório o uso de máscaras, por todos os integrantes do veículo, durante todo o trajeto
- As mochilas devem ser higienizadas no momento da retirada do veículo, antes da entrega para a criança, professor ou pais/responsáveis
Pesquisa com responsáveis
De acordo com o diretor-geral da Seed, haverá uma pesquisa com os mais de 1,1 milhão de responsáveis pelos alunos a fim de saber se há o interesse ou não de que retornem às aulas presenciais.
Pelo protocolo, as escolas deverão contabilizar quantos estudantes retornarão às aulas presenciais e quantos continuarão no ensino online.
Compra de materiais
Ainda segundo o protocolo, o governo estadual deverá disponibilizar 400 mil litros de álcool gel e 70% por mês, além de fornecer 5,1 milhões de máscaras de tecido, 10 mil termômetros, entre outros itens de segurança e prevenção.
Fonte: G1/PR - Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil