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Quase esquecida, troca de cartas ganha novo sentido com a pandemia

Quase esquecida, troca de cartas ganha novo sentido com a pandemia

Troca de correspondência ganhou força com a pandemia: para a estudante Luana, uma terapia (Foto: Franklin de Freitas)

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Uma tradição antiga, quase que esquecida em tempos de e-mail, WhatsApp e tantas redes sociais, volta a ganhar força em meio à pandemia. Estimulado pela criação e crescimento de clubes de troca de correspondências, o hábito de escrever e ler cartas vem conquistando mais adeptos pelo Brasil, com especial destaque, aqui, no Paraná. São crianças, adolescentes, adultos e idosos que encontraram na leitura e na escrita até mesmo uma forma de terapia.

Um dos projetos que tem ajudado nesse resgate é o Envelope de Papel. Criado pela publicitária mineira Mariana Loureiro, em junho de 2017, a iniciativa já soma mais de 1,7 mil participantes por todo o país e, nos últimos tempos, tem recebido uma média de 10 inscrições por dia. Do total de participantes, entre 200 e 300 são do Paraná, com destaque aos municípios de Foz do Iguaçu, Fazenda Rio Grande e Curitiba.

“Em cinco meses tivemos, mais ou menos, 600 novas inscrições. São pessoas que procuravam um novo hobby para passar tempo e que dizem ter sido até uma terapia, tem sido bem legal isso”, conta Mariana, explicando que a maioria dos participantes tem idade entre 30 e 40 anos, mas que a adesão entre adolescentes e idosos também é significativa. Além disso, há ainda um grupo teen, que já conta com 100 crianças e adolescentes entre 7 e 14 anos, que participam do clube com autorização dos pais e trocam cartas com pessoas na mesma faixa etária – para os maiores de 15 anos, a troca de correspondências ocorre de maneira livre.

Em Curitiba, uma das participantes do clube é a professora Simone Ramos, de 34 anos. Colecionadora de selos, ela acabou conhecendo o grupo na metade do ano passado, quase que por acaso. “Minha busca era por coleção de selos, troca de selos, e acabei encontrando a troca de cartas. Virou um hobby mesmo, uma forma de descansar a cabeça, falar com outra pessoa”, comenta.

Antes do clube, era recorda que já havia trocado cartas na adolescência, para se comunicar com familiares que moravam fora do Paraná e até mesmo do Brasil. Com o avanço das tecnologias, porém, o meio de comunicação ficou de lado e acabou sendo resgatado só décadas depois. Hoje, até mesmo a filha dela, de 15 anos, já participa do clube e troca correspondências com brasileiros que moram em todos os cantos, inclusive no exterior.

“Escrevemos [cada uma] em média quatro cartas por mês. Minha filha comprou a idéia logo no início, gostou quando viu. Mas ela nunca tinha visto carta, do formato que a gente escrevia antigamente. Era só boleto, cartas comerciais que ela conhecia, e hoje já tem esse interesse artesanal pelas cartas, desenhar, fazer pintura... Nunca uma carta é igual à outra, mesmo que os assuntos possam se repetir”, comenta Simone, que leciona na rede municipal de ensino. “Mas a maior importância [de participar do grupo] [e pelo resgate cultural, sair um pouco desse WhatsApp”.

‘É praticamente uma terapia’, conta participante
Aos 22 anos, a estudante Luana de Miranda conta que conheceu o Envelope de Papel há dois anos, por meio do Instagram. Como já gostava de escrever, fazer cartas para amigos e familiares, resolveu começar a participar. Desde então, já escreveu e recebeu mais de 200 cartas, comunicando-se com gente de todas as regiões do país e também com brasileiros que moram no Japão.

A vontade de participar do grupo, inclusive, surgiu após ela passar por muitas dificuldades em 2017, ano em que ela perdeu o pai e estava triste, chateada. “Uma situação bem complicada, nada mais me ajudava, me fazia bem nesse mundo. Foi quando resolvi buscar outras coisas para sair da situação em que estava e quando resolvi escrever cartas, porque amo escrever, e o grupo me recebeu muito bem”, relata a jovem, que mora em Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba.

Em tempos de pandemia, comenta ainda ela, a troca de cartas acaba sendo uma forma de aproximar mais as pessoas. “Nesse momento de pandemia, que não pode sair, não vemos ninguém, o contato das cartas aproxima ainda mais as pessoas, por incrível que pareça, porque você sabe que tem alguém tirando um tempo para conhecer, se conectar com você. Você sobre conta sua vida, ela sobre a vida dela… Nessa fase do coronavírus, isso ajuda muito a controlar a ansiedade. É praticamente uma terapia”, diz.

Como participar e começar a trocar correspondência
Para participar, é fácil. Basta acessar a página oenvelopedepapel.com.br e realizar sua inscrição.

Caso surja qualquer dúvida, também é possível buscar mais informações por meio das redes sociais do clube de cartas, presente no Instagram (@oenvelope_) e no Facebook (Envelope de Papel).
No ato da inscrição, os participantes podem colocar se preferem se comunicar com homens ou mulheres e a faixa etária dos correspondentes, por exemplo.

A lista de endereços dos participantes é atualizada mensalmente e publicada no primeiro sábado de cada mês.
“Quando a pessoa se inscreve, ela recebe uma senha e, com essa senha, consegue acessar a lista e ver os endereços. Fica para a própria pessoa decidir para quem vai escrever”, explica Mariana, comentando ainda que o método de escrita também é livre, embora a maioria costume optar pela carta manuscrita. “A maioria prefere a carta manuscrita, 90% das cartas é assim.

Mas deixamos em aberto porque as vezes a pessoa está com falta de tempo, uma tendinite… O importante é participar deste ato de amor”, finaliza.

Rodolfo Luis Kowalski - Bem Paraná 

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